quarta-feira, 27 de março de 2019

Composição IX. dificuldades

Ao seguir um rígido sistema de homologia entre os compassos e as régua de medição do quadro, o trabalho de composição foi se tornando cada vez mais árduo. Eram muitas possibilidades de materialização: o quadro possui as faixas diagonais que funcionam como acordes, os quais iriam para um segundo ou terceiro plano sonoro. Ao mesmo tempo, temos as figuras que flutuam no quadro. Eu comecei por uma abordagem linear: ir fazendo tudo seguindo a sucessão numérica de compassos e pedaços do quadro. Mas, além do cansaço de
diversos elementos que aparecem simultaneamente e atravessam as medições, temos um problema concreto de instrumentação: se se escolhem certos instrumentos para as cores, para os acordes, e este acordes/faixas diagonais duram por compassos, tais instrumentos ficam inelegíveis enquanto usados. Assim as opções da paleta instrumental vão diminuindo. Essa restrição demandou soluções criativas, como a de construir as faixas diagonais/acordes de uma maneira não estática, valendo-se de uma 'cesta'de timbres: ou seja, atribuir a cor a mais de um instrumento, e ir trocando o instrumento, para que ele se encontre disponível para outra atividade que a de terceiro ou segundo plano.
Esse foi um grande desafio, pois eu contava com a decisão de ter uma paleta menor para o quadro, seguindo as escalas atribuídas à Composição IX, que possuía as menores dimensões quanto as outras composições. Eu tratei te interpretação essa escala específica da Composição IX em termos de limitação da paleta instrumental e da duração da obra. A orquestração da Composição IX terá a menor duração de todas.
Ao mesmo tempo, será a que apresentou até agora as maiores dificuldades de composição.

Além da paleta instrumental, me vi prisioneiro do método desenvolvido para a orquestração: o diagrama da pintura, dividiu a obra em 33 segmentos, que logo no início igualei a 33 compassos. Então eu teria a cada compasso o segmento correspondente da divisão artimética da pintura em 33 segmentos. Usando um andamento mais lento, 60 bpm, depois de trabalhar em quase dois terços da obra, eu notei que o tempo total da obra iria ficar em 90 segundos. Aqui, em um primeiro momento me confundiu e fiquei meio preocupado. Pois seria a metade daquilo que eu pensava para a obra, cerca de três minutos.
Uma solução tola, que experimentei, foi de dobrar o tempo da obra e mudar Tempo (Time signature)de 6/8 para 12/8. Eu resolvi algumas coisas nos primeiros compassos. De fato, na primeira versão o tema/cor dos trompetes entrava muito seco, forte, com um sentido de urgência. Ao dobrar a duração das notas e passar para 12/8 essa entrada brusca era amenizada. Mas daí a confusão começou: os eventos ficaram desincronizados. Todo o trabalho anterior de correlação entre a metragem das figuras na tela e os compassos foi comprometido. Pois o tempo atribuído aos elementos era aquele mesmo e não outro. Depois de algum tempo tentam corrigir globalmente, decidi parar com essa atividade e voltar para compor a obra na sua fórmula de compasso original.  Ainda, me voltei mais para as faixas diagonais/acordes, encerrando essa parte no dia27 de março. De fato, este último mês foi de muitas interrupções na orquestração, com a volta as aulas e o trabalho na chefia e muitas leituras, especialmente do livro de Andréi Nakov: Kandinsky, the Enigma of the First Abstract Painting ( IRSA Institute, Cracow, 2015).
Para visualizar melhor a correlação entre a metragem da tela e a dos compassos coloquei barras verticais a partir do início das faixas diagonais.


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