segunda-feira, 18 de março de 2019

Palestra sobre Kandinksy Composição VI

Composição VI, de W.Kandinksy: tradição do ‘dilúvio em música’ e uma estética da destruição/regeneração do cosmo

Marcus Mota- UnB

Há uma longa tradição de recriação de narrativas bíblicas por obras musicais (LETELLIER,
2017). Dentre tais narrativas a do dilúvio possui grande produtividade, sendo ponto de partida
para compositores tão diversos como Michael Angelo Falvetti (Il Dilluvio Universale,1682),
Camile Saint- Säens (Le Deluge, 1876) e Igor Stravinsky (The Flood, 1958), entre outros. Os
desafios de se construir tal cataclismo universal impulsionam a busca de diversos recursos e

efeitos, os quais correspondem respostas aos mitemas ou elementos da narrativa (LÉVI-
STRAUSS, 2017). Nesta comunicação, apresento os mitemas básicos da narrativa do dilúvio
e os procedimentos usados para sua reelaboração nas ações de Falveti, Saint- Säens e
Stravinsky. Após a listagem desses elementos e recursos, passo a análise da pintura
Composição VI, de Wassily Kandinsky que dialoga tanto com os mitemas quanto com os
processos sonoros de dramatização do fim do mundo pelas águas. A pintura, além de conter
diversas referências a instrumentos musicais e a traços que se aproximam de eventos
acústicos, foi uma das poucas obras que o próprio Kandinsky comentou (LINDSAY & amp;
VERGO, 1994). Assim desdobrando-se em analista de si mesmo, Kandinsky explicita a
musicalidade como horizonte de tradução das dimensões estéticas do dilúvio. O cataclismo
universal é atravessado por sons de diferentes fontes: os gritos dos que morrem,- animais e
seres humanos,- da fúria da natureza, e das trombetas dos anjos. Como o som em suas
ondulações, o cosmo é destruído e recriado. Não seria, enfim, a música dramática para o
dilúvio uma apoteose da musicalidade? As análises e discussões aqui apresentadas inserem-se
em projeto de pesquisa em desenvolvimento a partir do edital Universal CNPq 2016, no qual
se propõe elaborar, a partir do estudo do conjunto de pinturas denominadas Composições, um
ciclo de peças orquestrais (MOTA, 2018).




1- Il Dilluvio Universale,(1682) de Michelangelo Falvetti 1642 – 1693
Link vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=214VRk-wVQM


Sigo a edição de Fabrizio Longo, publicada pela Società Messinese di Storia Patria,2001.
Ponto de partida: narrativa bíblica Gênesis 6-9.
É um oratório para vozes(solo e grupo) acompanhadas por Violino (1 e 2), Viola, um Arquialaúde(contínuo), Trombone e Órgão.

As personagens são
1- JUSTIÇA DIVINA (Contralto)
2- RAD , Esposa de Noé( Soprano)
3- Noé ( baixo)
4- Deus ( Baixo)
5- Morte (contralto)
6- Natureza Humana (Soprano)
7- Água (Soprano)

O coro se desdobra representado Elementos:  água (soprano), Ar (soprano), Fogo (tenor), Terra (baixo).

Partes:
a- No céu
Prólogo(Justiça Divina e os Elementos) (I sinfonia, II)
Diálogo ( Noé, Rad, Natureza Humana, Morte)
b- Na terra

C- Dilúvio
Sinfonia da tempestade (instrumental) XVII
Morte XVIII

D- Na Arca de Noé

Coro XXXI Final

A parte que nos interessa é a C, com duaas partes.
Na seção XVIII (1-57 compasssos). (entra no minuto 34:56 do vídeo) Duração 1:27.
Ela se inicia com uma seção instrumental que interpreta a queda da chuva, dos timbres mais agudos para os mais graves, e a rápida formação da tempestade.





No compasso 13 entram as vozes, também das mais agudas às mais graves. Vozes e instrumentos projetam ao seu modo e simultaneamente a tempestade que destrói a vida no mundo.




O coro canta:




"A fuggire, à morire,  Vamos fugir, vamos morrer!
coraggio, soccorso,    Coragem, socorro
ah miseri, ardire,       Ah miséráveis de nós, atrevidos

a fuggire, à morire.   Vamos fugir, vamos morrer!
Si tenti lo scampo,    Quando tento a fuga
ad ogni flutto in una tomba inciampo " a cada onda em um túmulo tropeço"


Tal choque de contrários demonstra a tensão que interpreta a luta pela sobrevivência, como bem comenta Fabrizio longo em sua edição:  " le vittime pronunciano termini contrapposti che Falvetti fa loro ripetere più volte: “ardire”, “coraggio”, “fuggire”, “a
morire”, quasi a sottolineare una resistenza dell’uomo, o almeno un tentativo che rende più drammatico il momento.(XVIII)"

Então entra ária da Morte.



2- Camile Saint- Säens (Le Deluge, 1876) 
Link vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=73tNt-F61JY

O oratório é dividido em 4 partes:
1- Prelúdio Instrumental
2- Corruption de L'Homme/ Colère de Dieu/ Alliance avec Noé
3- L'Arche — Le Déluge (7:50)
4- La Colombe — Sortie de l'Arche — Bénédiction de Dieu

O dílúvio é estruturado na sucessão de mudanças timbrísticas a cada 4 compassos.
Alternânciade escalas cromáticas entre Flautas, clarinetes e Fagotes sob uma cama de cordas em trêmulos nas cordas
 Construção em crescendo e ascensão para as regiões mais agudas. Depois a mesma estrutura se desfaz, em calma. 


3-  Stravinsky, The Flood (1962)
Link: vídeo com score: https://www.youtube.com/watch?v=fy_zLV6cqt8 ( começa em 15:15) Dura: 2:35. 
Link: vídeo doo show para a tv. https://vimeo.com/18597173 


  1. Prelude
  2. Melodrama
  3. The building of the Ark (choreography)
  4. The catalogue of the animals
  5. The comedy (Noah and his wife)
  6. The Flood (choreography)
  7. The covenant of the rainbow\


1-Stravinsky apresenta suas ideias sobre a obra em
Expositions and Developments, Igor Stravinsky, Robert Craft pp.123- 127.
2- Stravinsky and Balanchine, de Charles Joseph. pp277-304
3- Noah im Kalten Krieg: Igor Strawinskys Musical Play"The Flood
de. Hannah Dübgen
4- Stravinsky's 'The Flood' . Anthony Payne

"The representation of the flood itself is one of the most striking inspirations in the whole score. Stravinsky paints the rising and subsidence of the water purely by means of geometric shape and phrase-growth. The whole piece is conceived at a dead-level dynamic and in a uniform tempo which possess a choking inevitability beyond the capabilities of diminuendi and accelerandi. Formally it is an exact palindrome, with the rising of the waters pictured in three broad strokes and the subsidence in their reversal. Within this pattern two elements interact, an expansion and contraction of barred units finally reaching I2/I6 at the flood's height, and a search in the endless string ostinato for a coherent exposition of RI-F sharp. This form is bounded by C sharp and F sharp, and as the whole movement is founded on a fluctuating G sharp-D sharp pedal, we have a further example of the chromatic expansion of telescoped cadences mentioned above. Ex.9 shows the beginning of this accumulation. For the preliminary rising of the flood the time signatures reach I I/16 only to fall back, while the ostinato periodically throws up the opening of RI-F sharp (bracketed in Ex.9)
and between whiles meanders through segments of other row-forms which include relevant notes. As the waters gather themselves once more the metre increases methodically at a beat per bar until I2/I6 is reached, and the serial ostinato finally discovers its way, commencing with notes I to 6 and adding one note extra at each repetition so that the efforts of line and metre finally coincide (Ex.io). In fact these are not the only means used to focus attention on the flood's progress. The bar marked 'x' in Ex.9 interrupts less frequently as the high water approaches, and the chord that underlies the ostinato is re-attacked at increasingly short intervals, the whole moreover being played off against the steady pattern of the solo brass line. These minute calculations of phrase and rhythm bring the texture alive from top to bottom with changing mutual relationships, and the result is a dramatic coup of considerable power."pp 7-8

5- Il Diluvio’ stravinskijano tra aspetti simbolici e tecnica seriale M. Locanto

















Nenhum comentário:

Postar um comentário