quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

breves respostas a um questionário



A profa Anabela Mendes, na Universidade de Lisboa, apresentou algumas audiocenas para seus alunos.

Eles enviaram as seguintes perguntas, dia 05/02/2019

1 –Porque é que há a necessidade de conduzir nestas audiocenas V e III o percurso do espectador-ouvinte?

2 – Se utilizou no seu trabalho os timbres das cores?

3 –O que é que aprendeu com Kandinsky a partir desta experiência?

4 – Se as suas composições musicais não tivessem o suporte de Kandinsky como as definiria?

5- Considera que a música possa ser ilustrativa . Será que existe diálogo que comente a imagem?

6 -Considera que a animação é uma forma expressiva?

7 – As audiocenas reportam um jogo, uma pedagogia, uma narrativa?




Eu assim respondi:

1- o projeto é baseado em: 1- estudo e análise das obras teóricas e dos quadros de kandinksy. 2- depois, para cada quadro é composta uma música, que é um discurso temporal organizado; 3- o vídeo dentro do quadro segue a música. Então, a câmara seleciona as equivalências entre entre elementos sonoros e visuais. Isso gera esse efeito de percurso ou de condução. Mas podemos ter a tela parada e a música tocando.
2- Sim. segui a paleta proposta por Kandinksy em Do Espiritual na arte. E selecionei a instrumentação em função das cores de cada quadro.
3- Para mim, o melhor foi a abertura imaginativa que a obra de Kandinksy possibilita. Kandinsky foi atrás da música para ampliar seu campo perceptivo, rompendo com as práticas representacionais vigentes. eu fui atrás das pinturas para ampliar meu repertório de procedimentos composicionais.
4-Ora, no inicio eu estava me encaminhando para algo da fase prévia aos 12 tons de schoenberg. Mas depois eu vi que assim como as obras variavam, eu também variava. Meus professores me indicavam que meu trabalho ia na direção de música para cinema nos anos 40. Mas eu tenho feito coisas assim: eu não construo com progressões harmônicas, altero as expectativas em relação aos instrumentos (melodias nas cordas, etc), eu transfiro técnicas de música popular para a orquestra(riffs, ostinatos), então creio que posso me definir entre a fronteira da música erudita e do rock. Mas não tenho tido tempo para me definir. Tenho momentos contrapostísticos, outros dodecafônicos, outros mais livres. Creio que levo muito de improviso para escrita orquestral.
5- Acho que é por outro lado. A música produz em nós sensações de imagens, ou traduzimos a música por meio do nosso corpo e memória. Os compositores sabem disso.E ativam essas expectativras. Na primeira audiocena eu construi um roteiro por meio dos textos de kandinsky. Ele escreveu sobre a Composição IV. Mas depois da audiocena 2 cada vez mais fui me libertando do roteiro, pois não havia o que contar ou eu estava querendo ir além de paradigmas narrativos. Creio que temos que ultrapassar nossos hábitos de ver esses campos interartísticos pelas lentes da literatura. Usamos muito ainda o vocabulário e as referências do ato de ler um livro e reimaginar a história. Uma imaginação multidimensional nos impulsiona para além do verbal, do textual e de seus produtos.
6- Sim. Mas não creio que aqui foi uma animação. Tudo aqui gira em torno de uma pesquisa. Se tivesse mais recursos seria outra outra. Eu estive o tempo inteiro em diálogo com o designer visual, Alexandre Rangel. Ele já está em outra esfera em termos de audiovisual. Algumas vezes parecia que eu estava limitando a criatividade dele. havia modos mais expressivos ou provocativos de se desenvolver a parte visual. De um modo geral, a parte visual é estática, menos complexa que a parte sonora. Depois de muito conversar chegamos a esse modo de procecer, pois o projeto era em um primeiro momento tornar claras algumas possibilidades da musicalidade a partir de Kandinsky. Então houve, como podemos dizere, esse freio na visualidade. Podemos chamar isso de uma decisão de pesquisa, essa abordagem mais didática da imagem. Na verdade, o movimento dentro da imagem, a ampliação da tela pelos softwares no catapultava para universos alternativos, outras direções. Como toda pesquisa, como um processo criativo, tem sua escollhas, tivemos de optar por isso: um vídeo que correlaciona figuras e áreas de movimento de uma tela a uma música.
7- Sim. As três coisas. Mas, acima de tudo,mais que o vídeo e a música, temos uma documentação de processo criativo com suas questões e fontes de pesquisa, as quais serão expostas a partir de Setembro na Universidade de Lisboa, durante meu pós-doutorado. até. E obrigado pelas perguntas.
abs

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